quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Continuando a miscelânea O monte Castelo de Vilacampa

há já tempo que tinha ganas de escrever sobre este promontório natural que se ergue aos pês do caminho real que um dia uniu Viveiro com são Martinho e a costa. Desta via falaremos mais de miúdo noutro momento, cabe a possibilidade que esteamos a reconhecer nela a “via per loca marítima” da que falaram os textos geográficos latinos, sobre tudo logo da localização dum miliário no lugar de são Cristovo da parroquia de Budiam. Sem embargo segue a parece-me impactante a geografia do monte castelo, as suas imelhoráveis condições arqueológicas e o seu possível uso em tempos alto medievais e pode que romanos.
Del devo ante tudo contar-lhes uma historia que entra dentro das minhas vivencias de criança e que forma também parte da minha aprendizagem vital cara a atualidade. Há muitos anos, muitos mor desgracia, fui convidado por um amigo que prefiro manter no anonimato a visitar este lugar por ter descoberto em el certas quantidades de cerâmica em superfície que podiam albergar a possibilidade de seres este um castro. Rapidamente visitei o xacemento arriscando a minha integridade ao subir polos penedos arriba (sempre padeci de virtigo, a subida não é tao complexa). Recordo vagamente que no cruto podiam-se distinguir com claridade marcas de assentos na pedra de madeiros, próprias duma obra de opus misto, e na ladeira destes entalamentos, assomando em superfície, multitude de anacos de cerâmica iscados pelo chão. Recolhi quantos pude e, logo de estudá-los com os meus limitados conhecimentos (ogalha fora hoje) entreguei nos a uma instituição pública para o seu depósito e conservação. Com bem dizer sem perder tempo que este material nada tinha de castrejo, a maioria eram galbos de pança com decorações plasticas a modo de cordoes digitados, ungulaçoes, marcas incisas ondulantes e mamelões, sinto dizer que não me recordo da forma dos bordes, nem dos lábios, em aqueles tempos acostumaba pouco a tomar fotografias do que atopava e menos a documentá-lo, coisa que aprendi bem co passo do tempo, creio que eram bordes ex-vasados baseados no modelo de lábio apontado ou cortado em ângulo recto com ou sem acanaladuras, as paredes eram finas, lembro bem, e as sinais de torno ou tornete evidentes. Apareciam ademais anacos de louça vidrada de cor verde intenso e de extrema delicadeza, peças que hoje sei reconhecer sem dificuldade. Esta claro que nos atopabamos ante um depósito de enormes proporções de cerâmica popular de base redutora junto com peças de mesa de certo luzimento provintes da zoa francesa de Burdeos, e encaminhadas a estas terras junto coas importações de vinho, pode que de caminho a Mondonhedo. A data é doada, provavelmente finais do XIII e princípios do XIV, dista a louça popular da atopada em Mondonhedo pela sua maior finura e cuidado nos motivos decorativos, pero esse é outro conto ao que já adicaremos tempo e páginas, mas das que desejardes seguro vo-lo . A ideia seria poder resgatar estas peças, ou cando menos as suas fotografias e com elas dar uma ideia das produções locais e das importações no Valadouro desde quando menos a idade media e processo de urbanização da província de Mondonhedo. Polo que respeita ao uso que deveu ter este promontório, não creio que seja complexo de adivinhar, estamos a falar duma atalaia que defendia um caminho de relevância, tanto para o cobro de impostos e alcabalas dos produtos interiores como para o controlo dos exteriores que chegaram por mar ao porto de Viveiro, Suponho que conhecerdes, senão derei vola aqui a conhecer, uma carta zaida da própria corte dos RR. Católicos, onde se atende o rogo de certo comerciante genovês que laia por ter perdido toda a sua carga ás mãos de Pero Pardo de Çela e os seus Apaniguados, como alcalde maior de viveiro, por não fornecer o imposto local que se lhe eisixia pola descarga em terra. Ainda que este sucesso é bem posterior aos restos que conservamos, nada indica que este promontório ou atalaia não seguira a funcionar até o controlo final das costas galegas polos reis castelas. Provavelmente nem el erguia-se uma torre de obra mista, madeira e pedra, de pouca envergadura e com uma leve muralha ao seu redor, onde se resquiariam os produtos que não postarem o conseguinte selo de alcabala, fumácega ou o que for. As aduanas portuárias devemos lhas ao antigo regime e sobre tudo ó efeito que causaria a fortificação das rias, cousa que até a generalização das armas de fogo não era nem moito menos comum, assim o estraperlo era abundante e rendável, É de supor que durante muito tempo esta torre serviu aos desígnios do vispo de Mondonhedo e ademais aos reis que no momento ocuparam o trono de Castela, falar de individualismos resulta complexo, Dom Pero, como já veremos mas tarde, era apenas um vassalo mas destes reis e do seu vispo ao que se lhe encomendara a alcaidia maior dum porto importantíssimo como era viveiro, pode que a avarícia o levara a contravir as suas ordens, mas francamente tenho as minhas dudas, o que está claro é que como marechal de campo e alcalde maior muitos outros passaram antes que el sem deixar macula alguma nos anais da historia, e em alguns casos com mais méritos ás suas costas que morrer assetado ou colgado (os nobres sempre morriam de pê, rara vez se lhes relegava à baixeza de entornar a cabeça para lha cortar).
A torre do castelo guarda no seu subsolo uma informação valiosa para poder entender a enorme relevância que o Valadouro tive nos últimos séculos da idade media, e deveria ser destino prioritário para trabalhos arqueológicos estiver o governo que estiver na alcaidia do Concelho do Valadouro.

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